José Camilo e Seus Cúmplices

Na vertigem de tempos incertos, quem tem olho de lince dos subúrbios encontra a resposta para os difíceis desafios com os quais nos deparamos. José Camilo tem essa perspicácia e tem também a experiência de vida que a outros ainda faltará. Reunido com a sua banda, à qual chamou com acerto Seus Cúmplices, Camilo recupera personagens de banda desenhada, heróis do seu quotidiano, mulheres dos arredores que pensam em sonhos adiados, meninos de navalha na mão em lutas diárias contra o seu destino já escrito. E é deste homem, por vezes proscrito, por vezes prescrito, que surgem estas canções e este álbum.

Ancorado num som rock de pendor alternativo, como aquele que se fazia em tempos idos em Seattle, mas também no clássico rock português que Jorge Palma tão bem incorporou, José Camilo e a sua banda entrega-nos canções ora lentas ora rápidas, ora urgentes ora dóceis, de um romântico e lírico preso - e ainda bem - à sua guitarra e aos seus rifes. Acompanhado pelo ritmo imparável de uma bateria metronómica, de um baixo que propulsiona quando assim tem de ser, teclados que acrescentam sempre algo mais e segundas vozes belas que surgem sempre no momento certo, o disco desenrola-se de uma forma coerente e vencedora, talvez como nunca antes o tenha feito.

À sua experiência lírica e poética é somada este corpo de instrumentais de valor acrescentado para cantar a vida no subúrbio, feita de personagens reais e heróicas, de paixão, de amor, de suor, sangue e trabalho. O miúdo desse subúrbio cresceu e as histórias que carregava consigo, da sua adolescência e da idade pré-adulta, transformaram-se em tela em formato de álbum: não foi preciso intitular o disco, é um disco de um homem só e da banda que reuniu. José Camilo e Seus Cúmplices é para todos nós, porém é sobretudo para todos aqueles que acreditam que a vida pode ser muito melhor quando pegamos numa guitarra e imaginamos uma canção cantada a pleno pulmão.